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Originária do Programa Vocacional da Cidade de São Paulo, a CiA dXs TeRrOrIsTaS foi fundada em 2016 com o desejo de investigar e provocar terrorismos poéticos na região norte de São Paulo. Inspiradxs pelos manuscritos do historiador alemão Hakin Bey, o grupo trabalha a ideia de "atentado" como linguagem, esbarrando pela via da performance como potência ativa de promover diálogos poéticos com seu público. Questionando a constante academização das artes e a grande dificuldade que esta muitas vezes ocasiona para dialogar com o público periférico, utiliza de referências populares e cotidianas para a construção de "dramaturgias de identificação" que acessam imediatamente o inconsciente coletivo dos nossos. Trata-se de uma subversão das ferramentas de marketing capitalistas, trazendo o "tosco" e o "brega" como plataforma de base.

O grupo foi incorporando apropriações de identidade à sua pesquisa depois de um período de autoconhecimento individual e coletivo, após experimentar diversos trabalhos em torno do tema “corpo e gênero”. Mesmo que de forma inconsciente, a priori, os terroristas poéticos da CiA alimentavam um desejo vivo pelas questões em torno do tema e aprofundavam cada vez mais as possibilidades deste por vias práticas e teóricas em um mergulho cada vez mais vertical.

Autodenominadxs terroristas poéticos, os membros da CiA dXs TeRrOrIsTaS não almejam nenhuma verticalização de linguagem. Pelo contrário: Desejamos implodir todas as linguagens de modo que suas divisões percam o sentido e permitam a construção de novas noções de expressão ou a evidência de outras vias de fazer arte menos normativas e dominantes.

Seu primeiro trabalho, o atentado poético “Troca-Troca”, deu origem a primeira série terrorista da CiA nomeada de: "O Corpo Utópico", que desconstrói o texto de Michel Foucault pelo viés da discussão de gênero, contaminando-o com referências pop como Inês Brasil, Banda Uó, Vanessão dos 20 reais e a linguagem dos "mêmes" da internet.

“Troca-Troca” consiste na experimentação de  corpos, gêneros, sentimentos e desejos através da troca de peças de roupas entre xs terroristas e o público. Essa performance foi inspirada no livro e filme “A garota dinamarquesa” onde  Lili Elbe, se percebe diferente, tornando-se a primeira transexual a realizar a cirurgia de mudança de sexo no mundo.

Ainda numa busca por “Corpos Utópicos” a CiA cria seu segundo trabalho, a performance ”Quarto de despejo”. Esta propõe em dialogar o lugar de fala da mulher negra, periférica e lésbica/bi/pan, em uma mesa-desabafo de bar regada com doses de vodka. Em seguida feijões (símbolo máximo da nutrição e alimentação no Brasil), de diversas cores e tipos são despejados pelo espaço enquanto se dá inicio a leitura de trechos do livro “Quarto de Despejo”, de Maria Carolina de Jesus. A fricção da leitura com o ato de escolher feijões, possibilita um espaço desabafo onde o espectador pode despejar suas angústias nesse quarto público.

 A performance “O senhor esteja convosco”, desdobramento das percepções sobre atentado poético, consiste em provocar estranhamento dentro de um espaço onde todxs estão acostumados a seguir regras moralistas e religiosas (igreja), se travestindo pelo gênero oposto, percebendo quais são os diálogos possíveis a partir disso.

Livremente inspirada na obra de Lewis Carroll, “Somos todxs aLiCe” subverte o universo surreal do renomado escritor para criar um universo paralelo onde o gênero inexiste. A partir dos paradoxos que se friccionam no desenrolar da performance relacional, o público é convidado para redesenhar coreografias de resistência contra o policiamento heteronormativo. Este trabalho se apoia na pesquisa de André Lepecki, intitulada Coreopolítica e Coreopolícia.

Por fim, o último atentado poético desta série é a performance “O Beijo”, inspirada no método coreográfico de repetição das apresentações de Pina Bausch. Como resultado de um experimento estético-político-terrorista o atentado é uma sequência coreográfica que evoca um choque literal de corpos e das relações, onde os gêneros masculino e feminino chocam seus corpos uns contra os outros e se beijam.

Ainda em processo de busca de novas alternativas para uma arte terrorista que permita discussões viscerais dos paradoxos pertinentes ao universo LGBTTQIA, a CiA, dXs TeRrOrIsTaS promoveu em 2016 a ação-evento #PrePaRaOlímpiadas. Percebendo a impossibilidade de diálogos com os diferentes no território do Jaçanã e entorno (lugar extremamente militarizado e conservador), a CiA resolve promover ações para atrair os pares. Num processo tímido de erotismo revolucionário, com uma intenção simples de se aproximar dxs moradorxs gays e lésbicas que ocupavam as quadras do CEU Jaçanã para jogar vôlei e futebol, desenvolvem essa ação que se explode para além de si e que cria a primeira rede de proteção e fortalecimento de LGBT+ da Zona Norte, contando com apoio de parcerias importantes como o Centro de Cidadania LGBT Zona Norte, O Centro Desportivo LGBT do Brasil, a equipe da Gaymada SP, o núcleo LGBT da UJS (União da Juventude Socialista), o coletivo Lacração do Programa Vocacional, a UNA (União Nacional LGBT) e diversos artistas da cidade com os quais xs terroristas puderam estabelecer parcerias e criar diálogos que se estendem até hoje.

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